Sônia Guajajara e a bandeira do Brasil manchada de sangue

Minha pintura da Sônia Guajajara segurando a bandeira do Brasil manchada de sangue

Quando vi a imagem da Ministra Sônia Guajajara segurando a bandeira do Brasil manchada de sangue, pensei: “eu preciso fazer uma pintura dessa imagem”. Foi através dessa ideia que consegui fazer parte de uma galeria de arte aqui em Lincoln, Nebraska, onde moro.

Minha história com a arte é antiga e eu contei pra vocês neste post aqui como foi a minha trajetória nesse sentido. Entretanto, não pensei que tudo fosse acontecer tão rápido como vem acontecendo.

Em novembro de 2023 eu terminei minha pintura da Ministra dos Povos Indígenas, a Sônia Guajajara, e eu realmente achei que estava muito bem feita. Eu já havia pensando em talvez levar alguma das minhas pinturas para ser avaliada pela dona da Noyes Art Gallery, uma das galerias de arte mais tradicionais aqui da cidade onde moro nos EUA. Então, pensei que essa seria a oportunidade perfeita. Não marquei horário. Simplesmente apareci por lá e perguntei se a dona estava por lá. Ela não estava, mas a moça que estava na recepção gostou tanto do meu quadro que tirou uma foto e disse que falaria com ela depois. Fiquei feliz que ela gostou, mas pensei que teria que ir à galeria novamente pra tentar a sorte.

Entretanto, eu mal cheguei em casa e recebi uma ligação. Era a moça que estava na recepção da Noyes. Ela disse que mandou a foto pra Julia – a dona da galeria – e que ela havia ficado curiosa a meu respeito por conta da pintura. Com isso, marcamos uma reunião para o dia seguinte e ela pediu para eu levar algumas outras obras que eu tivesse criado. Eu mal podia acreditar que ela ficou de fato interessada nas minhas obras.

No dia seguinte, cheguei na galeria com vários dos meus quadros. Entre eles, estava um dos primeiros quadros que pintei.

Árvore de magnólias com as flores abertas

O quadro das magnólias foi o que menos impressionou a Julia, mas ela disse que eu sou uma artista com um olhar diferenciado. Eu entendo que essa obra não é das melhores. Não tinha técnica. Eu não havia ainda tido aulas de pintura e estudo de cores. Hoje sei que meus trabalhos estão bem melhores devido ao esforço que coloco para aprender e ao talento do meu professor, o Roberto.
Sobre minhas outras obras, ela disse que têm personalidade e que ela gostaria muito de expor meu trabalho na Noyes. Após muita conversa com meu marido, resolvemos que daríamos um jeito de pagar para eu fazer parte da galeria. Desde então, posso dizer que, enfim, sou uma artista, e não mais a “artista frustrada” que eu achava que era.

Desde que entrei na Noyes eu vendi dois quadros: o primeiro foi este quadro do copo de whisky com dois pedaços de limão em cima de um móvel de madeira. Tem um senhor que sempre vai à galeria para ver as novidades. Julia mostrou essa peça para ele e disse: “Esse é o seu estilo de pintura”, ao que ele respondeu: “Coloca essa junto com as outras”. Eu fiquei sem acreditar que estava vendendo meu primeiro trabalho.

Releitura do destaque em preto e branco dos olhos da Medusa, pintura de Caravaggio

O segundo quadro que vendi foi uma releitura. Esta peça, na realidade, foi um dos meus primeiros estudos para aprender técnicas de pintura a óleo, já que eu iniciei na pintura com tinta acrílica. A base para criar esse quadro foi a obra “Medusa”, do pintor italiano Caravaggio. Ela foi criada e preto e branco porque eu ainda estava aprendendo sobre misturas de cores, mas isso não fez com que ela fosse menos apreciada pelas pessoas que frequentam a galeria.

Eu também tenho outras peças em casa, mas achei que não estavam à altura de uma galeria de arte.

Ter feito o quadro da Sônia Guajajara, definitivamente, mudou a minha vida. Sei da importância política dessa imagem e foi exatamente por isso que quis pintá-la, já que sou ativista dos direitos humanos na internet. Entretanto, essa imagem também tem uma importância gigantesca na minha vida e serei eternamente grata à Ministra por ser essa mulher que luta pelo direito de todas as pessoas indígenas.

Com isso, percebi que minha arte também é política e que, através dela, eu quero dar visibilidade às pessoas que são invisíveis para a sociedade. Daqui pra frente, eu vou pintar cada vez mais para que as pessoas possam pensar em causas importantes quando olharem para minhas obras. Ter entrado para a galeria está sendo importante demais para que eu possa alcançar mais pessoas e fazer com que elas falem sobre assuntos que precisam ser debatidos por cada vez mais pela população em geral.

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2 Comments

  1. João Dovicchi

    Forte imagem e linda pintura. Uma verdadeira obra de arte para marcar um grande momento da nossa história. Obrigado e parabéns pela exposição.

  2. O menino palestino sentado nos destroços - Lívia Lamblet

    […] quadro, atualmente, está exposto na Noyes Art Gallery, em Lincoln, Nebraska, EUA. Está ao lado da pintura da Ministra Sônia Guajajara, que eu criei anteriormente. Minha arte é política, e é através dela que eu quero que as […]

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