Imersão

Mulher imersa na água Woman immersing the water

Rasas são aquelas pessoas que vivem na superfície e não se aprofundam nas questões do ser. Que não somente vivem de aparências, mas que não conseguem adentrar e dar uma mínima chance aos sentidos e às próprias inquietudes. Tudo o que fazem é mostrar para todos o quanto são adaptáveis e moldadas pelo meio, deixando de lado o lado mais profundo do eu.

Sair da mesmice e mergulhar em si mesmo é extremamente doloroso, porém libertador. Entender os próprios limites, descobrir a razão por que não se vai além, observar o que há de obscuro e iluminado em si mesmo revelam uma vontade gritante de transformação, de querer melhorar, de sair da famigerada zona de conforto. Zona essa que impede que possamos traçar caminhos melhores para nossas pobres e limitadas vidas.

Cada um possui fantasmas dentro da alma, e somente a própria pessoa pode espantá-los. Sem a plena consciência de que podemos domar os nossos medos, não há forma de construir uma ponte entre a ilusão e a realidade. E sem ela, não existe modo de ser alguém pleno. E a plenitude é o que todos buscamos nessa vida: a felicidade plena, o amor pleno, a paz plena. Temos dentro de cada um de nós essa noção de que falta algo, porém sem a imersão torna-se impossível entender qual a falta cada ser tem.

Ao conhecer alguém, é fundamental não julgar a pessoa por um instante. Por trás de cada minuto existem décadas de história que precisam ser avaliadas. Um encontro não é feito apenas pelo tempo cronológico, mas por uma série de fatores que culminaram com a presença um do outro. Uma história torna-se viva através das veias do tempo, e sobrevive através da esperança de permanecer forte pelos seus personagens. Se estes forem rasos e desistirem, tudo perecerá.

A insistência de quem é capaz de mergulhar fundo – e entender que há muito mais nas profundezas do que os olhos são capazes de ver – realiza milagres. É aquele que transforma, que modifica, que produz a mudança. Sem pessoas assim, talvez ainda estivéssemos vivendo em cavernas, tal qual a linda alegoria de Platão.

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